terça-feira, 26 de abril de 2016

Princípio da dignidade da pessoa humana: o modo como atuamos no mundo

"O que importa saber é como colocá-lo em prática, como torná-lo eficaz. Evidente que por trás de nossa investigação esconde-se uma forma de ver o mundo, uma 'filosofia' diríamos, ou uma ideologia, caso queiramos prosseguir no que adiantei na Introdução. Mas o fundamental é que o leitor saiba, e todo o operador do direito também, que somos afetados -- queiramos ou não -- pelo modo como atuamos no mundo. E cada um de nós, no exercício de suas possibilidade de ação, é responsável por aquilo que acontece no mundo e se projeta no horizonte espacial e temporal -- presente e futuro."

(NUNES, Rizzatto. O Princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 19)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Ensaio sobre a cegueira

Passada uma semana os cegos malvados mandaram recado de que queriam mulheres. Assim, simplesmente, Tragam-nos mulheres. Esta inesperada, ainda que não de todo insólita, exigência causou a indignação que é fácil imaginar, [...]
A resposta foi curta e seca, Se não nos trouxerem mulheres, não comem. Humilhados, os emissários regressaram às camaratas com a ordem, Ou vão lá, ou não nos dão de comer. As mulheres sozinhas, as que não tinham parceiro, ou não o tinham fixo, protestaram imediatamente, não estavam dispostas a pagar a comida dos homens das outras com o que tinham entre as pernas, uma delas teve mesmo o atrevimento de dizer, esquecendo o respeito que devia ao seu sexo, Eu sou muito senhora de lá ir, mas o que ganhar é para mim, e se me apetecer fico a viver com eles, assim tenho cama e mesa garantida. Por estas inequívocas palavras o disse, mas não passou aos actos subsequentes, lembrou-se a tempo do mau bocado que iria ser [...]
chamadas à razão, mas uma das outras, subitamente inspirada, lançou uma nova acha à fogueira quando perguntou, irónicamente, E o que é que vocês fariam se eles, em vez de pedirem mulheres, tivessem pedido homens, o que é que fariam, contem lá para a gente ouvir. [...]
Aqui não há maricas, atreveu-se um homem a protestar, Nem putas, retorquiu a mulher provocadora, e ainda que as haja, pode ser que não estejam dispostas a sê-lo aqui por vocês. Incomodados, os homens encolheram-se, conscientes de que só haveria uma resposta capaz de dar satisfação às vingativas fêmeas, Se eles pedissem homens, nós iríamos, mas nem um deles teve a coragem de pronunciar estas breves, explícitas e desinibidas palavras [...].

José Saramago - Ensaio sobre a cegueira
Aqueles que pensam ter sozinhos os dons da inteligência e da palavra e um espírito superior, quando os vemos de perto mostram-se inteiramente vazios! Mesmo que nos tenhamos por muito sábios, é sempre proveitoso aprender ainda mais, e não teimar em juízos errôneos.. (Sófocles: Antígona).

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Pensativa

Na minha mente
Tem um elo que me prende
A tanta coisa diferente
Mas uma coisa
Está sempre presente
Sempre iminente
Mas nem sempre contente
Que é pensar na gente.

domingo, 14 de setembro de 2014

Leve

Eu esperava 
Encontrar a felicidade que nunca procurei
A margem que nunca alcancei
E o instante que não arrisquei

Até perceber que não se deve procurar
Aquilo que não se fez por achar
Não se viveu pra se ter
Só se deixou na esperança de acontecer

Se deve viver sem esperar
Alcançar sem procurar
Sem expectativas do que vai ser
A expectativa deve estar
No viver sem programar
Deixe a vida te levar...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens." 

Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Onde estão esses grandes pensamentos, esses grandes homens de quem se ouve falar?!

[...] é cada vez menor o número de pensamentos a visitar os adolescentes, ano a ano, pois os arvoredos de nossas mentes jazem devastados -- vendidos para alimentar desnecessários fogos de ambição, ou enviados ao moinho, restando um mero galho onde possam pousar. Já não constroem ou criam conosco. Pode ser que em alguma estação mais favorável, talvez uma fraca sombra atravesse a topografia da mente..., montada nas asas de algum pensamento em migração hibernal ou outonal, mas, erguendo o olhar, verificamos nossa impotência para interpretar a substância mesma do pensamento. Transformam-se em aves domésticas os nossos pensamentos alados. Não mais ostentam o vôo do condor e só visam ao esplendor de um Shanghai e uma Cochinchina. Onde estão esses grandes pensamentos, esses grandes homens de quem se ouve falar?!

Thoureau "A Desobediência Civil"