Todo o país dos homens sem pupila
Banhando-se ao sol desta matina
Sem pressentir perigos
E nem saber que fato, droga, sina,
Ataque ou curva da evolução
Terá lançado todos
Nesta sublimação.
Vez por outra
Ainda nasce, no país,
Um monstro, um aleijado,
Que vê tudo em redor
Como se via no passado.
Mas logo os pais, aflitos,
O levam a um atrologista
Que o devolve à normalidade
De viver sem vista.
Tem um porém, porém;
Nunca ficam totalmente bons,
Os desgraçados.
Quer dizer, nunca vão-vêem de todo
Pois sempre se referem com emoção
(Olhando na memóri?)
A luz-forma-textura-dimensão;
E os cegos de nascença
Que sabem apenas palavras
Pra definir distância e colorido
(Quer dizer, conhecem o ver, de ouvido)
Entram em excitação
E, numa disputa vã,
Contam que também viram
Algo como voando
Em incerta manhã.
Mas, ao falar de vidências, Estão todos, apenas, os despupilados,
Fugindo rebeldia,
Com a faca no escuro
Tentando tirar lascas do tronco da Utopia;
Basta olhar na mansidão opaca
Dos olhos remelentos
Dos poucos que já viram
Ou nos vítreos glóbulos felizes
Da grande maioria
Banhando-se de luz
Na escuridão do mei-dia.
Millör Fernandes
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